sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Símbolos e Discursos


Vivemos em um mundo simbólico e discursivo. Estamos de olhos vendados, mas vivemos com os olhos, o mundo pelo qual nos guiamos é apenas e tão somente o mundo que conseguimos enxergar. Daí, precisamos entender que os objetos, a forma como vivemos, o que temos e até as nossas qualidades morais são símbolos, discursos que passamos para as pessoas.

O celular nosso de última geração, o carro do ano, o óculos de marca, a roupa de grife, a casa na praia, no campo, são formas simbólicas. Demonstram a nossa vida. Quando nós compramos um tênis Nike, um óculo Ray-Ban, um carro importado, uma calça Arezzo, não estamos apenas comprando um objeto para uso pessoal, mas uma forma de vida, um bem ideológico. E vamos com isso passar para a sociedade um discurso, uma representação simbólica de status, poder, liberdade, posse, riqueza, luxo, lazer, pois nós podemos ter o melhor, nós somos os melhores e o mundo é nosso.

E o pior, não percebemos a violência que causamos nas outras pessoas de menor poder aquisitivo, o sentimentos que despertamos nas outras pessoas quando nós ostentamos tais objetos de desejo e consumo. Por que será que vamos encontrar nas páginas dos jornais pessoas sendo assassinas por um par de tênis, por um relógio, por um celular, por uma roupa? Mas não estamos pouco nos importando, o dinheiro é nosso, fazemos dele o que bem entendemos.

Nós julgamos as pessoas mais pelo que elas aparentam ser e ter, e nunca de fato pelo que elas são, pois não conhecemos as pessoas, não conversamos com elas, não sabemos como vivem, o que sentem, pensam.

Alguém tem um carro, é casado, tem filhos, bom emprego, é um homem de bem. Essa é a nossa lógica. Nós trocamos os valores morais pelos bens adquiridos e o status social conquistado. Nós somos o que consumimos, somos o que podemos ter e comprar. Só precisamos ligar a televisão e vamos perceber que a todo momento há uma proposta sedutora de felicidade dividida em 10 vezes, sem juros, no cheque, no cartão, a vista, a prazo, como quisermos, da forma que acharmos melhor.

Somos mercadorias, as empresas querem a todo o momento nos conquistar, nos seduzir, nos comprar. Assim como escolhemos os produtos pelas marcas, pela qualidade, pela beleza, as empresas trabalham da mesma forma, desenvolvem produtos e objetos para as classes A, B, C, D e E, para cada estrato social, econômico, cultural.

Nesse contexto a realidade é o que menos importa, enquanto a realidade é reta, a imaginação é curva e não tem destino certo. As estatísticas dizem que o número de pessoas acima do peso aumenta de forma geométrica, estão em número cada vez maior, mas nas publicidades, nas propagandas, na televisão, não encontramos pessoas gordas, só magras, belas, perfeitas, maravilhosas, deuses e deusas, pessoas que nós não encontramos em nosso dia a dia, mas são imagens que nos seduzem, tentam nos convencer de que, ao adquirirmos um produto, tal produto, teremos acesso ao reino fantástico do prazer e do desejo.

Por que propagandas de cerveja sempre mostram pessoas felizes nos bares, rindo, alegres? Será mesmo essa a única realidade? Por que as publicidades de roupas são sempre com modelos magérrimas, não há tamanhos GG, Extra G? Ou será que as empresas trabalham em cima de nossos desejos e sensações?

Se o amor é cego, por que nós queremos aparentar beleza? Ou será mesmo que o amor pouco importa, importa mesmo o que podemos atrair com nossos dotes físicos? Se todo carro tem a mesma função, nos levar de um lugar a outro, se todo celular nos permite falar, se toda roupa irá nos vestir, por que nós estamos sempre trocando por novos modelos, modernos, bonitos, do ano? Ou será que queremos passar sempre uma imagem para as pessoas?

O consumismo trabalha com essa noção de que o velho não presta, o velho está ultrapassado, o velho não está na moda, e nós caímos nessa armadilha, nos deixamos embriagar por esses discursos, nos deixamos levar sem pensar sobre desejos, necessidades, vontades. Quais os nossos desejos, de que temos vontade, e quais as nossas reais necessidades?

Posso desejar ter um carro novo, mas não ter vontade de possuir, pois não tenho necessidade. Tenho necessidade de um notebook, desejo possuir o melhor, mas a minha realidade me impele a comprar o que me seja mais acessível, logo, neutralizo a minha vontade. Estamos constantemente sendo atacados pelo consumo, pelo prazer de ter, possuir. Recebemos mensagens pela celular pra comprar, ligamos o rádio e alguém nos incita a comprar, na TV, no outdoor, nos panfletos, nas ruas, até mesmo o nosso lazer precisa ser regido a consumo, não conseguimos ficar em casa, temos que sair pra algum lugar pra beber, comer, dançar, ler, ouvir, gastar.

“Esse é nosso mundo, o que é demais nunca é bastante, a primeira vez é sempre a última chance, ninguém vê onde chegamos”. Renato Russo. Podemos encontrar mais leituras e reflexões sobre o assunto exposto de forma precária acima, nas obras Zygmunt Bauman, Jean Baudrillar, Theodor Ardono, e outros, quem tiver coragem.
Ronaldo Magella